Em 1972, a revista Manchete titulou “O gás salvou as florestas do Brasil“ e, no subtítulo, “O império dos Igel nasceu com a compra dos estoques do gás do zepelim“.
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O Brasil tinha, nos anos 30 do século passado, mais ou menos 40 milhões de habitantes, os quais cozinhavam e se aqueciam, em sua maioria, com madeira e carvão de madeira. Somente nos centros das grandes metrópoles do Rio de Janeiro e São Paulo e, um pouco mais tarde, o Recife, era possível de ter gás encanado das centrais de gás. Com o crescimento da população, aumentou cada vez mais o desmatamento. Ernesto Igel comprou, da companhia Zeppelin-Reederei, os estoques de gás e iniciou o fornecimento da central do gás engarrafado para a população além dos centros dessas três cidades.
No livro comemorativo do 50º aniversário da companhia ULTRAGAZ, nota-se, numa imagem bem no início, o Zeppelin, ao lado do fundador Ernesto Igel e de um veículo da companhia. Nesse tempo, a companhia ULTRAGAZ, fundada por ele, já havia crescido até se tornar a maior empresa de gás engarrafado no mundo inteiro.
O fundador da empresa Ernesto Igel compra os estoques do gás da Companhia Zeppelin-Reederei.
Como Ernesto Igel chegou a ter essa ideia? Com certeza, ele tinha a personalidade de empreendedor necessária, para reconhecer a oportunidade. No dia 22 de agosto, Ernesto chegou, vindo de sua cidade natal, ao Rio de Janeiro. Ele cuidou, para uma empresa austríaca, de exportação e importação para o fornecimento de um piano. Permaneceu no país e, pouco tempo depois, começou a estabelecer a sua empresa de importação e exportação. Em seguida, especializou-se na importação de artigos para cozinha e banheiros da Alemanha, entre eles aquecedores e fornos a gás. Tanto para sua correspondência quanto para suas viagens de negócios, Ernesto Igel gostava de usar o dirigível, que, nessa época, era o meio de transporte mais rápido entre o Brasil e a Alemanha. É possível comprovar que ele foi passageiro do dirigível LZ 127, em 1934, mas também já em 1931, como ele descreve de modo bem ilustrativo numa carta para sua esposa. Essa carta foi publicada no jornal “Deutsche Zeitung“, no dia 9 de dezembro de 1931.
“Entre os passageiros do “Graf Zeppelin“, na sua última viagem, nesse ano, do Recife para Friedrichshafen, encontrava-se o Sr. Igel, do Rio de Janeiro, cuja esposa cedeu amabilissimamente a seguinte carta, que notifica as particularidades da viagem:
“Da melhor maneira possível, quero ilustrar a seguir a viagem do Zeppelin, de Pernambuco para Friedrichshafen. E quero ser bem detalhado, pois dado que sou, como conseguimos descobrir, junto com os officiais a bordo, a 198ª pessoa que, como passageiro, até hoje, foi transportada num meio de transporte aéreo, seja de que tipo for, através de um oceano. E calculamos aqui todas as viagens do Zeppelin, do Do-X, R 100, e mais, sendo assim uma viagem desse tipo um feito fora do dia a dia e merece ser lembrado por nossos filhos.

Cheguei no Recife no dia 20 de outubro, no mesmo dia em que o Zeppelin chegou, vindo da Europa, sem atraso de nem um minuto. Era uma vista maravilhosa, ver o dirigível se aproximar sobre a água, lentamente. Sobre a cidade, desligou os motores, deixando as luzes dos faróis vaguear. Calmo, majestoso e iluminado estava o colosso, perto, ao nosso alcance no ar, uma visão que quase enlouquece a gente de entusiasmo. Os aplausos da população eram enormes, embora que o Zeppelin está mesmo ficando quase uma visão cotidiana no Recife. Todo mundo sente um enorme orgulho da nave e apoia as aspirações tanto quanto possível. (…) Já antes da chegada do Zeppelin, entrei em contato com o representante da HAPAG, que organiza as viagens dos dirigíveis Zeppelin ao exterior. Me disseram que o Zeppelin ia chegar com 17 passageiros, dos quais 9 iam viajar de volta e que, além de mim, somente o Senhor Cônsul Uebele iria viajar como passageiro (novo). A respeito de minha passagem, teria-se que falar primeiro com o comando da nave. Fui convocado para o dia seguinte da chegada do dirigível. Realmente, fui apresentado, no dia seguinte, ao capitão Lehmann, que já fora avisado e concordou em levar-me, se a carga, o vento e o ar permitissem, o que ele somente poderia dizer no dia da partida. Pediu-me para ligar nesse dia, para saber da decisão. Por volta das 11 horas, no dia 24 de outubro, recebi a notícia de que poderia viajar, mas que somente poderia levar 10 kg de bagagem. Arrumei o mais necessário numa malinha pequena e uma bolsa para roupa e despachei o resto da bagagem no navio ‘Gelria’.
Em 1931, o dirigível ‘Graf Zeppelin’ fez ‘somente’ três viagens de ensaio para o Brasil, de ida e volta. Ainda não se estava bem familiarizado com as condições climáticas dos trópicos.
A descrição de Ernseto Igel mostra desse modo muito bem o caráter experimental dessas primeiras viagens.”


Carta para a companhia Zeppelin-Reederei do dia 19 de agosto 1937. Foto: arquivo da Luftschiffbau Zeppelin GmbH
Passeio pelo dirigível
“No dia 25 de outubro, que dizer, na próxima manhã, às 7 horas, passamos por Cabo Verde. (…) O Sr. V. Schiller ofereceu me mostrar o interior da nave. (…)
No interior da nave se vê, bem em cima, a grande quantidade de balões vermelhos de hidrogênio, os quais carregam a nave. Embaixo, tem muitos balões brancos. Estes contêm o gás azul, que alimenta os motores. Prefere-se usar o gás azul em vez da gasolina, porque a gasolina, calculando um consumo de 500 kg por hora, diminui o peso da nave em meia tonelada, o que dificulta a regulagem. O gás azul, que foi inventado especialmente para o Zepp, não tem essa desvantagem, porque tem o mesmo peso do ar, e então os balões vazios têm o mesmo peso que os cheios, porque, depois do esvaziamento do gás, entra o ar.“
O dirigível „Graf Zeppelin“ consumia, por viagem transatlântica, 360 garrafas de gás propeno/buteno. Essas eram fornecidas antes, da Alemanha para os aeroportos de dirigíveis no Brasil, em navios. Assim que, como tanto o transporte quanto sobretudo a superação dos obstáculos burocráticos para importação isenta de impostos custava muito tempo, era necessário ter sempre um estoque grande de garrafas de gás nos aeroportos de dirigíveis no Brasil.
Na carta do dia 16 de setembro de 1936 para a companhia Zeppelin-Reederei, o Syndicato Condor explica as dificuldades na importação e exportação das garafas de gás e enumera o estoque, numa documentação anexa. Desta forma, havia, em junho de 1936, 2.789 garrafas de gás no Rio e 1.379 no Recife.
Calculava-se, para as 7 viagens restantes do ano, a necessidade de 360 vezes 7 garrafas, totalizando 2.520 garrafas, concluindo-se que o estoque seria suficiente.
Depois do desastre de Lakehurst, as viagens dos dirigíveis para o Brasil foram suspensas. A última viagem transatlântica de um dirigível da companhia Zeppelin foi então a viagem do “Graf Zeppelin“ do Recife para Friedrichshafen, do dia 4 até 8 de maio de 1937. Os estoques de propeno/buteno nos aeroportos de dirigíveis, no Jiquá, no Recife, e em Santa Cruz ,perto do Rio de Janeiro, não eram mais, consequentemente, necessários.

Ernesto Igel, nesse momento, reconheceu a oportunidade de estabelecer um novo campo de negócios e, através do barão Steinheil e do Sindicato Condor Ltda, entrou em contato com a companhia Zeppelin-Reederei, com o desejo, de comprar os estoques. O negócio foi realizado. Em 1938, Ernesto Igel fundou, com outros acionistas, a ULTRAGAZ S.A., para o fornecimento de gás em garrafas para domicílio. Durante o período transitório, o gás poderia permanecer estocado em Santa Cruz. A seguir, cada vez mais domicílios, também fora dos grandes centros, começaram a cozinhar com gás. O fornecimento de energia elétrica para cozinhar era ainda era raro, mas as garrafas de gás chegaram aos lugares mais remotos em carros de bois, em trilhas não pavimentadas.
E assim, ainda hoje mais de 90% dos brasileiros cozinham com gás.


Sylk Schneider criador de museus, curador e pesquisador, que vem estudando o Zeppelin e as relações teuto-brasileiros por anos.
Meine Mutter war Sekretaerin bei der Condor / Lufthansa. Herr Hoelck oelck war der ihr Chef.